17 de junho de 2025
A cirurgia bariátrica, que é como chamamos o tratamento cirúrgico para a obesidade, já se demonstrou um método muito seguro e altamente eficaz no controle da obesidade e das doenças que advêm desta condição. Assim como a obesidade, o número de cirurgias bariátricas também tem aumentado bastante no Brasil, mas evidentemente, o procedimento cirúrgico não deve ser indicado para todo mundo que está acima do peso ou que quer emagrecer. A ideia da cirurgia é fazer com que os pacientes obesos fiquem mais saudáveis, porque já se sabe que os riscos de alguns tipos de câncer e de algumas doenças são mais comuns nos pacientes que têm um elevado IMC (Índice de Massa Corpórea). Faz mais de 20 anos que iniciei os trabalhos nesta área nos hospitais públicos e posteriormente na medicina privada em São Paulo e há pouco mais de seis anos estou em Bauru, atendendo exclusivamente os pacientes na medicina privada. O que eu posso dizer sobre a evolução do tratamento cirúrgico durante todo este período é o seguinte: Os métodos cirúrgicos ficaram mais seguros e rápidos com o advento da laparoscopia, houve uma ampliação e flexibilização das regras para indicação cirúrgica e muito mais pacientes tiveram acesso à cirurgia, inclusive no SUS, o que é muito positivo. O grande problema é que com isso houve certa banalização da cirurgia por parte dos pacientes e, infelizmente, também de alguns profissionais da área. Mas o pior mesmo é que muitos pacientes simplesmente deixam de fazer o seguimento adequado no pós-operatório, especialmente quando já se sentem satisfeitos com a perda de peso adquirida, estão de bem com o espelho, com a balança e com o seu guarda-roupa. Todo mundo quer operar, mas muitas vezes, sem se dar conta de que se trata de um tratamento definitivo, ou seja, que não dá para se arrepender depois e pedir para desfazer a cirurgia. Quando se faz uma cirurgia bariátrica, o paciente assume mudanças de comportamento alimentar e de hábitos para o resto da vida, sendo imprescindível a realização de atividade física e do acompanhamento regular pela equipe multidisciplinar (cirurgião do aparelho digestivo, endocrinologista, psicólogo e nutricionista). Em alguns casos, como naqueles em que o paciente é submetido às cirurgias do tipo disabsortivas como o bypass, será necessário o uso de suplementação vitamínica para sempre. Em outros, o excesso de pele poderá exigir uma cirurgia plástica reparadora. A mulher em idade fértil deve ter em mente que não poderá engravidar nos próximos 18 meses depois da cirurgia, o que também é um detalhe importantíssimo no seu planejamento familiar. Apesar dessa cirurgia ser bastante segura, existem os riscos de complicações como em qualquer procedimento cirúrgico e, inclusive, o risco de morte, ainda que muitíssimo pequeno. Também deve ser observado que, se o paciente não seguir as recomendações da equipe multidisciplinar e adquirir hábitos que são incompatíveis com uma vida saudável, poderá acontecer o que chamamos de reganho de peso, que é quando o paciente volta a engordar depois de um tempo inicial de sucesso. Sabe aquela pessoa que você ficou sabendo que fez cirurgia bariátrica, emagreceu bastante, mas agora está com aquela carinha de doente e com um aspecto envelhecido para a sua idade? Pois bem, provavelmente trata-se de um paciente que não faz o acompanhamento multidisciplinar, não faz dieta adequada, não faz os exercícios físicos e não toma as vitaminas (que são prescritas depois de alguns tipos de cirurgia). Sou um grande entusiasta do tratamento cirúrgico para a obesidade por causa dos excelentes resultados, mas especialmente, porque eu sei muito bem o quanto é difícil ser obeso, acredite! Mas pense muito bem se tudo isso cabe, de fato, na sua vida antes de marcar a cirurgia e para ajudar na decisão, faça um pré-operatório adequado e completo, procurando profissionais capacitados e comprometidos com o resultado ao longo prazo. Tenha em mente que a cirurgia é apenas uma parte do tratamento e que apenas este procedimento não resolverá o seu problema e, por último, tire todas as suas dúvidas e se informe bastante sobre os riscos e sobre as transformações que acontecerão no seu corpo e na sua vida para sempre. Pacientes elegíveis à cirurgia • Pacientes com o IMC acima de 40 ou IMC entre 35 e 40 quando o paciente sofre das doenças associadas à obesidade, o que comumente chamamos de comorbidades e que classicamente são o diabetes tipo 2, apneia do sono, hipertensão arterial, dislipidemia, doença coronariana e as osteoartrites. • O Conselho Federal de Medicina (CFM) em uma resolução em 2015 determinou a inclusão de outras doenças nesta lista: doenças cardiovasculares, asma grave não controlada, osteoartroses, hérnias discais, refluxo gastroesofágico com indicação cirúrgica, colecistopatia calculosa, pancreatites agudas de repetição, esteatose hepática, incontinência urinária de esforço na mulher, infertilidade masculina e feminina, disfunção erétil, síndrome dos ovários policísticos, veias varicosas e doença hemorroidária, hipertensão intracraniana idiopática, estigmatização social e depressão. • Em dezembro de 2017 o CFM ampliou as indicações para os pacientes diabéticos que possuem IMC entre 30 e 35, desde que haja insucesso no tratamento clínico, que o paciente tenha entre 30 e 70 anos e que o diagnóstico de diabetes tenha sido feito há menos 10 anos. Você sabia? Que mais de 70% dos pacientes que se submetem à cirurgia para o tratamento da obesidade são mulheres? E porque isso acontece? Será que as mulheres estariam mais obesas do que os homens? Definitivamente não, o que ocorre, na verdade, é que é muito mais complicado ser uma mulher obesa, do que um homem obeso na nossa sociedade e, infelizmente, parece que é isso o que tem levado mais mulheres a fazer esta cirurgia e não a busca por mais saúde. Texto por Dr. Paulo Pitelli Cirurgia do Aparelho Digestivo CRM: 918373